Era uma boa vida,
Desde sempre a correria, a luta,
os laços e os papos.
Levantar cedo com minha mãe me
chamando e dando bronca, pra eu me aprontar pra escola. O primeiro dia de aula, os primeiros
amigos, o choro, a saudade dela. O melhor momento era quando eu a via no portão
me esperando.
Amava meus finais de semana,
quando saímos em nossa eterna caminhada com direito as paradas nas casas das
tias até chegar na casa da minha amada avó. Eram os quilômetros mais divertidos
da minha vida. Porque só valorizamos a vida e suas dificuldades quando já não
faz sentido, quando tudo fica tão difícil e que já não precisam mais da nossa importância e quando perdemos pessoas especiais que estiveram conosco.
Meu coração ainda vibra quando
lembro do meu avô vindo com aquelas brincadeiras e canções que só ele podia
inventar. Primaiada reunida, disputa
entre as tias para ver quem fazia o que de almoço, briga entre as primas pra
ver quem assumia o posto mais fácil na hora de lavar as louças.
Saudades dos beliscões, das
mordidas, das brincadeiras quase nada delicadas. Saudades daquela família doida,
saudades daquela época. Saudades daquela inocência que tínhamos, daquela
harmonia que deixava os vizinhos elogiando nossa união.
Cada canto daquela casa tem uma
lembrança, um cheiro e nos traz de volta no tempo. Quando ninguém precisava
sentir falta , porque sabia que amanhã ou domingo estariam todos reunidos para
um almoço ou jantar com direito a macarronada, frango ao molho e refri.
O tempo não foi tão favorável para todos. Primeiro minha mãe,
depois minha avó e depois de um tempo meu avô. O que posso dizer? Senão que,
não existe vazio maior no coração que perder as pessoas que me criaram, perder
aqueles que me guiaram nos primeiros passos, que me ensinaram a dar meu melhor
e me mimaram no que puderam, mesmo em uma época que ninguém tinha condição financeira. Aqueles que deram os melhores abraços, doaram o
melhor amor e que jamais me decepcionaram
Ainda sinto o aroma do café da manhã e daquele da tarde servido pras visitas, o cheiro de terra molhada quando regavam as plantas do jardim. Lembro que na casa dos meus avós garoava dentro quando tinha temporal, por causa do telhado antigo, saudades daquela cadela a pretinha. Pra falar a verdade, até das surras da minha mãe eu sinto saudade, porque eu sabia que ela tava ali presente me amando e tentando me ensinar algo. só saudades e mais saudades.
Sei que muitos partilham dessa
dor, porque muitos os amavam do fundo do coração. Tem dias que dói mais, em
outros ameniza um pouco, mas jamais passará. Podemos apenas ir nos conformando
e tentando dar nosso melhor enquanto estamos vivos. Mas aquela imagem da
família reunida nas viagens ao Rio Claro, dos papos em torno da fogueira em que
todos eles estiveram presentes nunca será apagada. Muitas piadas, risadas...Eles amavam a família que
tinham.
Cada um demonstra sua perda como
pode, eu prefiro em afogar silenciosamente em meus textos, porque nem todos
podem compreender a dimensão do que eu realmente sinto, da dor que me sufoca
todos os dias quando eu acordo e não me sinto em casa. Achar um lugar que
realmente você sinta q é seu lar não é uma simples tarefa. O coração escolhe o
lar em que se conforta e o meu está vagando por aí.
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